Boneca travesti feita sob encomenda emociona dona: ‘sonho de infância realizado na vida adulta’

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Bárbara Iara Hugo falou ao g1 após mostrar em vídeo a boneca sereia travesti feita no estilo japonês ‘amigurumi’ pela artista Mari Kazi. Processo de criação com traços da dona e cores da bandeira trans levou 3 meses. Boneca travesti feita sob encomenda emociona dona após infância brincando escondida
Uma boneca travesti feita sob encomenda em São Paulo deixou a dona e vários de seus seguidores emocionados ao ser apresentada num vídeo em uma rede social. Isso porque Bárbara Iara Hugo, de 34 anos, relembrou a infância quando brincava “escondida e cheia de medo”, para agora finalmente se ver representada em uma boneca de verdade.
Mulher trans preta, Bárbara falou ao g1 após publicar o vídeo.
“Lembro que desde muito nova, com 4 ou 5 anos de idade, eu ia pra casa de uma prima (…) e brincava com ela nas brincadeiras de menina. A questão é que, pra mim, era impossível realizar o sonho de ter a minha própria Barbie. Eu só podia realizar aquele desejo enquanto eu estivesse escondida na casa da minha prima. A boneca é a materialização de um dos sonhos não realizados na infância e que hoje podem ser realizados na vida adulta”, afirma a youtuber, mestranda em educação e gestora de exposições de artes visuais.
Bárbara e sua boneca travesti feita sob encomenda
Arquivo pessoal
No relato publicado com o vídeo, Bárbara se diz apaixonada pela boneca e a descreve como um “sonho-conquista”. A publicação recebeu elogios e respostas emocionadas.
A relação com a figura da sereia vem desde a infância e foi incorporada por Bárbara em sua transição, quando escolheu Iara como seu segundo nome – remetendo à sereia do folclore brasileiro.
“Eu fiz aula de natação desde muito novinha, e eu lembro que toda vez que entrava na piscina eu me imaginava como Ariel, da Disney. E era essa Ariel, com os cabelos incríveis e lindos, com uma cauda maravilhosa, que dançava e era livre no mar, mas que almejava o inalcançável”, recorda.
Ela vê agora que pode ser inspiração para outras pessoas que tiveram ou têm uma infância com experiências parecidas com as suas. “O mito do filme (‘A Pequena Sereia’) tenta pensar nesse ser que deseja ser outra coisa que não é. E a cisgeneridade, a sociedade comum, acha que a gente representa uma farsa, que a gente deseja ser aquilo que a gente não é. Quando na verdade a grande felicidade está em ser exatamente aquilo que se é e poder conquistar o que a gente não podia, o que a gente foi proibida de realizar antes”, diz Bárbara.
Bárbara Iara Hugo em ensaio fotográfico fantasiada como sereia. À esquerda, com a artista Mari Kazi e a boneca feira sob encomenda
André Medeiros Martins; Arquivo pessoal
Boneca de tricô
A boneca foi feita sob encomenda pela artista Mari Kazi, que Bárbara conheceu por indicação de uma amiga. Foram 3 meses para ser concluída. “[Boneca] trans, é a primeira que eu faço. Eu trabalho com esse projeto de crochê em que eu represento as pessoas, e pra mim é muito gratificante fazer parte dessas histórias; já fiz bastante coisa para a comunidade LGBTQIA+. E eu acredito que seja o primeiro ‘amigurumi’ trans. Não vi nenhum [outro] até agora”, conta Mari.
“Amigurumi” é o estilo do boneco de tricô, que se origina da junção das palavras japonesas “ami” (malha ou tricô) e “nuigurumi” (bichos de pelúcias). O termo nasceu no Japão na década de 1980, explica a artista, que desenvolve projetos com essa técnica há 9 anos.
Mari usa fotos para fazer a representação em 3D da pessoa e conta que a formação em exatas (ela também é engenheira florestal) também ajuda no processo de criação. Na boneca de Bárbara, ela acrescentou detalhes como o cabelo, a cauda e o biquini nas cores da bandeira trans (azul, rosa e branca) e duas pintas sob os olhos.

Fonte: G1 Entretenimento